segunda-feira, dezembro 11, 2006

Estava a vir da praia, o meu irmão ligou a convidar-me para jantar.
Simpático da parte dele, não somos propriamente os melhores irmãos do mundo, sempre tivemos uma relação muito conturbada. A minha cunhada é um espectáculo e os meus sobrinhos são lindos.
Já em casa, fui tomar banho e arranjar-me, resolvi vestir-me de branco, uma cor que nem uso muito, mas apetecia-me.
Saio de casa, vou abrir o portão e de novo toca o telemóvel...
"Narizinha já saíste? É que preciso de um favor..."
Eu sabia!!! Este convite tinha algo por trás, pensei logo!
"Preciso que me tragas pinhas."
PINHAS???? Logo hoje que estou de branco?!?
As pinhas estão num local de difícil acesso para quem está de branco... grrr
Ok, resolvida a questão e pinhas dentro do carro saí, rumo à casa que em tempos foi minha e que me traz tantas recordações...
Não interessa porque saí mas assim que o fiz, o meu irmão quis ficar com a casa, fez obras, alterou muita coisa e depois disso esta era a segunda vez que lá ia entrar, a primeira depois da morte dela...
À medida que me ia aproximando, as lágrimas iam saindo.
Apanhei trânsito, estava parada, (odeio filas de trânsito!) quando olho para o lado e no outro carro estava uma criança com um olhar tão triste e doce a olhar para mim, limpei as lágrimas a correr e sorri, ela sorriu de volta e o carro arrancou...
Não consigo descrever o que senti neste momento...
Toquei à campaínha daquela que foi a minha casa durante quase toda a minha vida, é esquisito carregar num botão e não ter a chave.
Aproxima-se uma vizinha e ao mesmo tempo o meu sobrinho grita de contentamento pelo intercomunicador, a minha chegada!!
Entrei no elevador com a vizinha e todo o prédio ficou a saber que eu tinha voltado porque o meu sobrinho resolveu abrir a porta de casa e gritar bem alto pela tia Narizinha!!!
Por um lado foi bom, porque ele não me deixou respirar, assim que pus os pés lá dentro, levou-me para o seu quarto "novo", cheio de brinquedos espalhados pelo chão.
Do seu quarto não tenho grandes memórias, era e é o sótão, ou seja, sítio das tralhas!
O meu quarto, O quarto, aquele que me traz lembranças de uma cama, onde me ri, onde chorei, onde dormi, onde fiz amor, onde partilhei o "impartilhável", ou seja, eu... simplesmente eu... é agora o quarto da minha sobrinha. É difícil olhar pela porta e não encontrar a minha cama...
Mas por outro lado, é gratificante ver a alegria e a felicidade da minha cunhada e dos meus sobrinhos.
O meu irmão e a minha cunhada ficaram no outro quarto, onde eu tinha toda a minha tralha, roupa, papeladas, lembranças de adolescente, troféus e medalhas (escondidos!!), dossiers, enfim, algo que se assemelha a um escritório mas com uma cama de solteiro, um armário com roupas, estantes e prateleiras para dossiers e livros, uma mesa com mais papéis e um computador!
Tanto a cozinha como a sala estão completamente diferentes, não parecem as mesmas...
O jantar correu bem, estava a correr tudo bem mas eu não me senti bem lá, só queria vir embora, a angústia e a tristeza eram grandes e visíveis... o meu sobrinho apanhou-me a olhar para o infinito e perguntou-me porque estava com aquela cara... fiquei sem resposta... arranjei uma desculpa e vim embora...
Entrei no carro e a vontade de fazer o percurso para casa dela era muito grande...
Hesitei, respirei fundo, comecei a chorar e comecei a conduzir...
Tão cedo não vou lá jantar...

14 comentários:

indigo des urtigues disse...

Memórias...Não é facil...
Um beijinho grande para te dar mt força e votos de uma boa semana!:)

Narizinha disse...

Obrigada, indigo, um beijinho grande para ti também!
Boa semana.
:o)

Anónimo disse...

Minha querida... parece que ainda dói muito. Foi um dos post mais lindos que li desde que ando por aqui. Senti tudo, até parecia que via o teu sbriho, os quartos, tudo, senti tudo até a tua dor...
sei de uma coisa... vai passar... como tudo na vida... passa... Beijos e Boa semana para ti
Mi

Anónimo disse...

...sobrinho...

Narizinha disse...

minerva, também sei que vai passar, preferia é que não doesse tanto...
Beijos e boa semana para ti também.

Anónimo disse...

Decsulpa dizer-te mas acho não passa...deixa de doer tanto mas não passa! Vives intensamente e qd se vive assim torna-se difícil obter esse alívio.

Tb eu estive com o meu sobrinho e com eles vemos uma luz diferente, não é!?

Sempre espertinhos!!! :P

Um beijo e um xi com força para ti Narizinha, amiga de guerra!

Anónimo disse...

Mais uma vez grata pela partilha...sempre bom ler-te!! :)

Narizinha disse...

jotinha, passa a dor, as memórias não, nem quero que passem, fazem parte da minha vida, agora a dor sim, espero que sim...
Bjs grandes

Anónimo disse...

Vai passar e desconfio que olharás a partir deste dia os teus sobrinhos de forma diferente! vais sempre sentir esperança...como eu ;o)

Beijos

Janeca87 disse...

Narizinha... adoro ''ler-te'' (mais uma vez nao sei de onde tirei isto...) como tu es tão particularmente especial... com tanto desvaneio consegues ser tao pura...

ao ''ler-te'' mais um pouco nao sabia se havia de ficar triste contigo... ou contente de conhecer alguem como tu...

o amanha é outro dia... so tens que acreditar que vai ser melhor que o de ontem... é assim que faço...

Bj * Grande

Narizinha disse...

anónim@, olho para os meus sobrinhos de maneira diferente desde que nasceram...
Obrigada pela visita.

janeca, vou sempre acreditando que amanhã vai ser melhor e vai ser mesmo!
Bjs

Janeca87 disse...

claro k vai... *****

:-)

Mar da Lua disse...

É dolorosamente bonita a forma melancólica como olamos o passado. Há dores que não passam narizinho...nunca, mas com as quais aprendemos a viver, ausências que doiem, doiem sempre mas que aprendemos a transformar em presenças só nossas, numa espécie de segredo cumplice com quem foi e fica sempre, aliás SEMPRE.

Um abraço e uma beijoca

Anónimo disse...

Puf... Desde que o meu pai morreu também evito ir a casa da minha mãe... Há coisas tão iguais, outras tão diferentes... O tempo passa e a vontade de enfrentar... :/

Bj